Diz a lenda que Rui Barbosa[1], ao chegar em casa, ouviu um barulho estranho vindo do seu quintal. Chegando lá, constatou haver um ladrão tentando levar os seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com seus amados patos, disse-lhe:
- Oh, bucéfalo[2] anácrono[3]! Não o interpelo pelo valor intrínseco[4] dos bípedes[5] palmípedes[6], mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito[7] da minha habitação, levando meus ovíparos[8] à sorrelfa[9] e à socapa[10]. Se fazes isso por necessidade, transijo[11]; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia[12] de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica[13] bem no alto da tua sinagoga[14], e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à qüinquagésima potência que o vulgo denomina nada.
E o ladrão, confuso, pergunta:
- Doutor, eu levo ou deixo os patos?
- Oh, bucéfalo[2] anácrono[3]! Não o interpelo pelo valor intrínseco[4] dos bípedes[5] palmípedes[6], mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito[7] da minha habitação, levando meus ovíparos[8] à sorrelfa[9] e à socapa[10]. Se fazes isso por necessidade, transijo[11]; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia[12] de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica[13] bem no alto da tua sinagoga[14], e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à qüinquagésima potência que o vulgo denomina nada.
E o ladrão, confuso, pergunta:
- Doutor, eu levo ou deixo os patos?
[1] Rui Barbosa, advogado, jornalista, jurista, político, diplomata, ensaísta e orador, nasceu em Salvador, BA, em 5 de novembro de 1849, e faleceu em Petrópolis RJ, em 10 de março de 1923.
Desenvolveu intensa atividade política a favor da abolição e, posteriormente, na fase final do movimento republicano, nas articulações que culminaram com o derrube da monarquia no Brasil, em 15 de Novembro de 1889.
Orador imbatível e estudioso da língua portuguesa, foi presidente da Academia Brasileira de Letras em substituição ao grande Machado de Assis.
Desenvolveu intensa atividade política a favor da abolição e, posteriormente, na fase final do movimento republicano, nas articulações que culminaram com o derrube da monarquia no Brasil, em 15 de Novembro de 1889.
Orador imbatível e estudioso da língua portuguesa, foi presidente da Academia Brasileira de Letras em substituição ao grande Machado de Assis.
[2] Indivíduo estúpido, grosso, cavalo.
[3] Avesso aos costumes modernos, retrógrado.
[4] Que está dentro de uma coisa ou pessoa e lhe é próprio;interior, intimo.
[5] Animal que anda sobre dois pés.
[6] Aves cujos dedos dos pés são unidos por membrana.
[7] Oculto; escondido; Ignorado; desconhecido; lugar oculto.
[8] Animal que põe ovos, que se reproduz por meio de ovos.
[9] Disfarce para enganar; dissimulação; indivíduo matreiro; mesquinho; avarento.
[10] Disfarce; fantasia; manhã; astúcia.
[11] Chegar a acordo; ceder; contemporizar.
[12] Figura pela qual se dá vida e, pois, ação, movimento e voz, a coisas inanimadas e se empresta voz a pessoas ausentes ou mortas e a animais.
[13] Que brilha como o fósforo. Irritadiço; irritável; irascível; zangadiço.
Muito boa!
ResponderExcluirEu conheço uma história parecida:
Havia um senhor muito desapontado, que reclamava para um soldado que estava lavrando um Boletim de Ocorrência:
"Não é pelo valor intrínseco do bípede palmípede, mas pela petulância, com a qual devassaram o recesso de meu lar!"
Dois vizinhos que estavam loge, observando o senhor exaltado, comentam:
"O que que aconteceu?"
"Sei lá. Parece que roubaram um pato!"
Oi Harley, obrigado pela visita e pela história.Muito boa também, provavelmente elas vieram da mesma fonte..Grande abraço, saúde e sucesso!!!
ResponderExcluirAdorei!Me fez lembrar uns episódios de irmãzinhas 'do fogo' sendo assaltadas!Qdo começam falar 'em línguas' o bendito ladrão desaparece,rs. Abs.
ResponderExcluirNossa Renata, fico aqui imaginando a situação. Deve ter sido bem diferente. Grande abraço e mais uma vez obrigado pela visita.
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