13 de jan. de 2010

Eu sou o palhaço!



O texto de hoje é uma homenagem ao meu amigo Nailor Marques, um brilhante professor de literatura e palestrante que admiro e respeito muito. Compartilho com vocês. O texto é dele.

Diz uma história que numa cidade apareceu um circo e que, entre seus artistas, havia um palhaço com o poder de divertir, sem medida, todas as pessoas da platéia. O riso era tão bom, tão profundo e natural que se tornou terapêutico. Todos os que padeciam de tristezas agudas ou crônicas eram indicados pelo médico do lugar para que assistissem ao tal artista que possuía o dom de eliminar angústias.

Um dia porém, um morador desconhecido, tomado de profunda depressão, procurou o doutor. O médico então, sem relutar, indicou o circo como o lugar de cura de todos os males daquela natureza. O homem nada disse, levantou-se, caminhou em direção à porta e quando já estava saindo, virou-se, olhou o médico nos olhos e sentenciou: “não posso procurar o circo… aí é que está o meu problema: eu sou o palhaço”.

Como professor, vejo que, às vezes, sou esse palhaço, alguém que trabalhou para construir os outros e não vê resultado muito claro daquilo que faz. Tenho a impressão que ensino no vazio, porque, depois de formados, os meus ex-alunos parecem que se acostumam rapidamente com aquele mundo de iniqüidades que combatíamos juntos.

Parece que quando meus meninos e minhas meninas caem no mercado de trabalho a única coisa que importa é quanto cada um vai lucrar, não importando quem vai pagar essa conta e nem se alguém vai ser lesado no processo.

Isso vem me assustando cada vez mais, desde que repreendi, numa conversa com alunos, o comportamento do cantor Zeca Pagodinho, naquele episódio da guerra das cervejas e quase todos disseram que o cantor estava certo, pois tontos foram os que confiaram nele. “O importante, professor, é que o cara embolsou milhões”, disse-me um; outro: “daqui a pouco ninguém lembra mais, no Brasil é assim, e ele vai continuar sendo o Zeca, só que um pouco mais rico”, todos se entreolharam e riram.

Sendo loira, gelada e com grana… vale tudo!

A pergunta é: “é possível, pela lógica, que todo mundo ganhe? Para alguém ganhar é óbvio que alguém tem de perder.” A lógica é guardar o troco a mais recebido no caixa do supermercado; é enrolar a aula fingindo que a matéria está sendo dada; é fingir que a apostila está aberta na matéria dada, mas usá-la como apoio enquanto se joga forca, batalha naval ou jogo da velha; é cortar a fila do cinema ou da entrada do show; é dizer que leu o livro, quando ficou só no resumo; é marcar só o gabarito na prova em branco, copiando do vizinho, alegando que fez as contas de cabeça; é comprar na feira uma dúzia de quinze laranjas; é bater num carro parado e sair rápido antes que alguém perceba; é brigar para baixar o preço mínimo das refeições nos restaurantes universitários, para sobrar mais dinheiro para a cerveja da tarde; é arrancar as páginas ou escrever nos livros das bibliotecas públicas; é arrancar placas de trânsito e colocá-las de enfeite no quarto; é trocar o voto por benefícios; é fraudar propaganda política mostrando realizações que nunca foram feitas. É a lógica da perpetuação da burrice.

Quando um país perde, todo mundo perde. E não adianta pensar que logo bateremos no fundo do poço, porque o poço não tem fundo. Parafraseando Schopenhauer: “Não há nada tão desgraçado na vida da gente que ainda não possa ficar pior”.

De nada adianta o conhecimento sem o caráter. Que nas escolas seja tão importante ensinar Literatura, Matemática ou História quanto decência, senso de coletividade, coleguismo e respeito por si e pelos outros.

Então, uma pirueta, duas piruetas, bravo! Bravo! E vamos todos rindo e afinando o coro do “se eu livrar a minha cara o resto que se dane”. Enquanto isso o Brasil de irmã Dulce, de Manuel Bandeira, do Betinho, de Clarice Lispector, de Chiquinha Gonzaga e de muitos outros heróis anônimos que diminuíram a dor desse país com a sua obra, levanta-se, caminha em silêncio até a porta, vira-se e diz: “Esse é o problema… eu sou o palhaço”.

11 comentários:

  1. Ótimo texto, é por isso q o Brasil está onde está, a corrupção, os roubos e enganos não acontecem só na política, acontecem também no dia a dia dos brasileiros. Muito triste.

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  2. Diana Maura da Silvajaneiro 13, 2010

    Nossa... ainda sem palavras, é daqueles "sermões" que se ouve, ajunta-se o queixo e nada se diz. Nem mais nem menos, tudo na medida exata, infelizmente verdadeiro, pensamento conciso, frases fortes, realidade triste.
    Um tarde abençoada!

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  3. Muito bom esse texto, trata-se da extrema realidade que vivem nos Brasileiros. Uma pena ...

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  4. Ligia Cristinajaneiro 13, 2010

    é Diana!!! Faço das suas, as minhas palavras!!!!

    A verdade nua e crua!!!! sem tirar ou adicionar nenhuma palavra!!!

    Fica só o pensamento, a consciencia de cada um! Na vontade de querer ou nao mudar essa realidade!!!

    Parabéns mais uma vez pelos textos!!!!!

    ótimo dia!

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  5. Aline, é, fica cada dia mais difícil acreditar que um dia as coisas serão diferentes, pelo menos, estamos fazendo a nossa parte. Beijo grande!

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  6. Tarde de bençãos para você também Diana e mais uma vez obrigado pela visita, use e abuse do que for colocado no blog, a intenção é mesmo motivar e colocar as pessoas pra cima. grande abraço!

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  7. Oi Ligia, bom que você tem vindo junto com a Diana, esse ano quero colocar esse blog a todo vapor, vou cuidar dele todos os dias para que vocês possam usufruir, usem, indiquem e vamos embora porque não podemos parar...E fica um sonho, longínquo, mas deve ser sonhado, de que um dia teremos um país que nos orgulharemos das atitudes sérias e honestas de seu povo. grande abraço!

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  8. Claudionor Oliveirajaneiro 14, 2010

    Claudionor Oliveira - Maringá,Pr
    "Olá meu amigo, Prof. Robson, conheço seu trabalho, já participei do curso O Verdadeiro Vendedor, tenho colocado em prática muita coisa que aprendi, através de suas palestras, tenho a Apostila e sempre a examino para me atualizar, queria dizer muito obrigado.
    Neste comentário "EU SOU O PALHAÇO" o Senhor retrata muito bem a realidade do ser humano, pois os valores se inverteram, ser honesto
    hoje é sinônimo de burrice, infelismente as pessoas estão perdendo o sentido de carater, baseando-se muitas vezes naquilo que vê ou ouve, a educação perdeu seu valor,estamos vivendo nos tempos em que o errado é certo e o certo é errado, mas eu ainda acredito na transformação do seu humano, pois acredito em Deus, e sei que ele está atento a tudo isso, pois o mundo se contaminou com a corrupção,
    prostituição, drogas, e tudo que é errado, e a resposta para aquele Palhaço, personagem desta enquete, será que ele acredite em sí mesmo, no seu valor , acredite que Deus o escolheu para ser diferente, como uma pessoa especial, que tem o poder de transformar,
    tristesa em felicidade, pois uma pessoa assim nunca poderá se abater, e descobrir o tesouro escondido que há em seu coração"

    (PORQUE DEUS AMOU O MUNDO DE TAL MANEIRA QUE DEU SEU FILHO PARA QUE TODOS OS QUE NELE CREEM NÃO PEREÇA MAS TENHA A VIDA ETERNA"

    Um forte abraço, e um feliz 2010 com muitas realizações ...

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  9. Este comentário foi removido pelo autor.

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  10. Oi Claudionor, primeiramente muito obrigado pela sua visita aqui no blog, obrigado pelo carinho em dizer que pude agregar algo em sua vida. Fico feliz que o curso tenha servido e até hoje em algúns momentos te ampara. Quanto ao texto do meu amigo Nailor, dói, e dói porque nós sabemos que ele está correto, mas não aceitamos! Quero mudança igual você quer, por isso fazemos a nossa parte sempre, sem esmorecer, acreditando que junto conosco em tudo que fazemos tem uma direção muito maior de Deus, e é justamente esse Deus que faz nos acreditar no impossível e crer no invisível. Precisamos lutar para que isso seja diferente e um bom início é pelas nossas ações. Um feliz 2010 para você. Grande abraço, saúde e sucesso!!! E apareça sempre por aqui.

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  11. Sempre que penso em desistir de lutar por algo melhor me vem a cabeça o seguinte pensamento que li em algum lugar: "O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons"
    Outro pensamento que me anima muito é do Abílio Diniz. Ele é direcionado ao esporte, mas tem servido para tudo na minha vida, e basicamente diz o seguinte:
    "Você não precisa fazer o que as outras pessoas não conseguem, basta fazer aquilo que qualquer um pode fazer, mas que a maioria jamais fará."

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